Núcleo Original da Freguesia do Ó – São Paulo (SP): o valor dos bens culturais e as territorialidades cotidianas

Alberto Luiz Santos

Resumo


Os grupos de sujeitos exercem múltiplas territorialidades cotidianas. Trata-se de um processo marcante do urbano contemporâneo, impondo-se à totalidade da sociedade. Tais territorialidades expressam elementos simbólicos que constituem a vida: da história e memória às manifestações culturais, expressas em posturas, gestos, indumentárias, encontros, festas e demais especificidades das práticas sociais. É imprescindível destacar que o cotidiano dos grupos sociais traz à tona escolhas e possibilidades que são influenciadas pelo poder do dinheiro. O consumo de mercadorias, lugares e situações também são processos simbólicos, como discute Zukin (2000) ao tratar do consumo visual do espaço e do tempo. Considera-se, portanto, a imbricação entre as dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais do espaço geográfico (CORRÊA, 2012). Como salienta Sahlins (1997), a cultura é o fenômeno único das ações e da experiência humana, em que pessoas, relações e coisas manifestam-se como valores e significados. Coadunando com essa perspectiva, as territorialidades nos fornecem uma pista do modo como os sujeitos atribuem valor ao espaço. Podemos nos remeter, entre outros processos, à valoração de bens culturais materiais – centros históricos, edificações, monumentos históricos, praças, vias públicas, entre outros exemplos que constituem parte do acervo do patrimônio cultural. Consideramos que tais bens, por vezes reconhecidos pelo sistema normativo por meio de ações como os tombamentos (FONSECA, 2005), não possuem valor simbólico inerente e sim valores atribuídos pelos grupos sociais (MENESES, 2000). Por este esse motivo, nos dedicamos à compreensão das territorialidades manifestadas no Núcleo Original da Freguesia do Ó como forma de interpretar o legado de seu tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) por meio da Resolução nº 46 de 1992. Esta resolução e seus estudos prévios elencam os valores histórico, urbanístico, arquitetônico, ambiental e afetivo do bairro como justificativas para o tombamento, envolvendo um conjunto de ruas, edificações e, destacadamente, os Largos da Matriz Velha e Nossa Senhora do Ó, onde está situada a Igreja de mesmo nome, e um conjunto de bares, restaurantes e áreas públicas. Em pesquisas desenvolvidas recentemente, valendo-nos de uma metodologia qualitativa e da aplicação de entrevistas semiestruturadas, buscamos em expressões como jogos, esportes, festas, encontros de familiares e amigos e no consumo em estabelecimentos comerciais, desvelar os valores simbólicos que os Largos Nossa Senhora do Ó e Matriz Velha possuem para moradores, visitantes e transeuntes. Assim, à luz das territorialidades atuais no Núcleo Original da Freguesia do Ó, este trabalho pretende apresentar os resultados de nossas pesquisas em diálogo com as justificativas elencadas pelo Conpresp para o referido tombamento. Destacando trechos das entrevistas aplicadas, nossa proposta é discutir elementos que coadunam com tais justificativas, bem como aqueles que as transcendem através das constantes (re) significações que envolvem as práticas socioespaciais e os bens culturais tombados. Tendo em vista a relevância de interpretar o patrimônio cultural por meio das vivências e dos viventes (MENESES, 2012), buscaremos tratar a atualidade desses bens culturais tombados, com foco nos usos atribuídos pelos grupos sociais.

Palavras-chave


patrimônio cultural, territorialidade, Freguesia do Ó

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