Mapas e patrimônio: a cartografia na identificação do patrimônio cultural
Resumo
Este artigo é resultado de pesquisa de mestrado sobre cartografia no âmbito da construção das práticas de preservação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), notadamente as práticas ligadas ao desenvolvimento de ferramentas oficiais de identificação e conhecimento do patrimônio cultural brasileiro. A partir da análise dos usos da cartografia na identificação e caracterização dos fenômenos socioculturais – entre os quais, o patrimônio –, buscou-se compreender que conceitos de mapas e mapeamento as diretrizes dos inventários nacionais do Iphan utilizaram para orientar o emprego e a produção de mapas do patrimônio cultural com vistas à identificação de bens que o constituem. Com base na análise da bibliografia e das fontes primárias, identificaram-se duas abordagens de cartografia nessas diretrizes: de um lado, uma abordagem mais tecnicista da cartografia, que pretende melhor conhecer e analisar o espaço absoluto, procurando representar com precisão “matemática” a dimensão e a posição geográfica dos elementos sobre a superfície física ou terrestre; e, de outro, uma abordagem que entende os mapas não como o retrato da verdade precisa e objetiva, mas como uma construção social e simbólica. Identificaram-se também usos diversos dos mapas, para além da localização geral dos bens culturais: mapas como fonte histórica de conhecimento do sítio inventariado, como ilustração e como ferramenta de campo para levantamentos arquitetônicos e escolha de possíveis entrevistados. Percebeu-se a priorização de uma abordagem da cartografia tecnicista representada pela indicação de mapas da cartografia sistemática, mas com orientações que propiciariam o uso de outras perspectivas, como a cartografia temática e as metodologias participativas de mapeamento. Em nossa avaliação, esses resultados apontam para muitas possibilidades de um uso mais frequente e atento da cartografia nas ações voltadas para o conhecimento e debate sobre o patrimônio cultural em sua acepção mais contemporânea, a qual prima pelo debate interdisciplinar e pelo diálogo com a sociedade na busca do reconhecimento de suas referências culturais.
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